domingo, 19 de agosto de 2012

Marionete



Vivi durante anos uma vida que não era minha

Por tantos anos fui marionete de mim mesma

Figurante de um espetáculo sem atores e sem platéia.

Dublei corpos e sentimentos

Vivi tanto em função de outrem

Que me ‘perdi dentro de mim’ mesma.

Depois gastei anos me procurando...

Ninguém me via, nem me conhecia.

Busquei na memória alguma pista

E tinha personagem para todos os gostos:

Mocinha, vilã, bailarina, cortesã...

Menos eu.

Até que lá num cantinho sombrio

Vi uma menina que se automutilava

E chorava em silêncio.

Mutilava-se

Para que o sangue que sua alma chorava

Pudesse escorrer corpo a fora

Para não morrer sufocada...

Eu conseguia compreendê-la

Sem ao menos trocar palavras.

E vendo o sangue que deixava seu corpo

Me senti, pela primeira vez na vida, aliviada e em paz.

E quando finalmente vi seu corpo tombar no chão

Percebi que aquela menina

Era quem eu tanto procurava...

Ela precisou morrer

Para que eu pudesse me encontrar.



19 de agosto

Nathy


Vertigem



Me vejo além do grande espelho d’água

Fazendo novamente aquele caminho

Cruzando aquela trilha obscura

E quase sem volta.

Dei apenas o primeiro passo

Mas algo aqui me pede pra recuar. Dizem que a vista é ótima

Para chegar lá é preciso sorte

E isso sempre me faltou.

Outrora tomei essa mesma trilha

Mas a vertigem me fez cair

E uma parte de mim morreu.

E aqui estou eu de novo

Mais um passo a frente...

Você pode cair!

(Diz uma voz que sai daqui de dentro)

E se eu não cair?

Mais um passo...

E se eu puder alcançá-lo?

Mais um passo...

E se...

De novo a vertigem...

Agora é tarde para voltar.



19 de agosto

Nathy

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A estranha


Tenho impressões estranhas sobre mim
Impressões que refletem o meu verdadeiro eu
Coisa que só eu não via
Ou forcejava não perceber.

O mundo que construi tentando ocultaras as minhas verdades
Se desconstruiu
Se desfez
No instante em que ouvi a música
E cantei a canção.

Andei por caminhos tortuosos
Tentei encontrar o meu lugar
Mas é difícil quando se é diferente.
Não me encaixo em nenhum desses quebra-cabeças
E vivo à margem.

Ser deslocada, ser gauche
Não ser o que querem que eu seja
É o meu maior prazer nesta semi-vida.

Peça sem quebra-cabeça
Problema sem solução
A experiência mal-sucedida
A estranha, a distraída...

A que anda sempre na contra-mão.


Natalia Costa

(07/08/2012)

domingo, 5 de agosto de 2012

Sonho?



Estou levemente entorpecida
Sentindo ainda o gosto da tua boca
E o cheiro quente e
húmido da tua pele.
Essa noite fez calor no meu mundo
Acordei suada, meio que transportada
De uma para outra realidade.
Tive impressõe (visões) surreais
Uma abstração sem igual
E tão concreta para mim!

Vivi aventuras intensas
Fiz coisas que sempre quis
Mas que nunca ousei fazer
Fiz e me vi extremamente feliz.
O contato das naturezas ao natural
Junto ao brilho da lua
E o silêncio da rua
Extasiaram-me.

De repente uma moleza
E o corpo pediu colo
As filosofias, as ideias loucas
E os crimes perfeitos podiam esperar
E esperaram...
Até que me despí da mulher que era
E me vesti da menina de sempre
E adormeci como tal em teus braços.

Natalia Costa

(05/08/2012)

Aula de Morfologia




Morfemas, lexemas, gramemas
E o pensamento longe...
Fará sol?
Fará frio?
Imagino um dia morno
Cheio de lentidão e preguiça
Deslizando, arrastando-se
Como as horas que não passam.
Ao invés de analisar sintagmas
Viajo neles.
O mundo deve ser tão bom
Longe daqui...
Vejo o professor segmentando as palavras no quadro negro
Dissecando o 'amor'
Como quem disseca um animal
Fria e calmamente
E eu nem me choquei com a cena
Em outros tempos tería dó
Sentiría pena!
Mas hoje isso me diverte...
Ver o 'amor' perder a calma
Perder a alma
Me faz bem
Me deixa leve
Como quem tem os pecados
E os erros perdoados.
Ver o 'amor' morrer me consola
Finalmente um final feliz...
'-Algum problema, mocinha?
-Ah, nada não professor
Pensei alto...'
E assim a aula seguiu
Morfemas, vocábulos, sintagmas, frases, texto...
E eu com o pensamento longe.


Natala Costa

(04/08/2012)

Um dia a mais



Abro os olhos pela manhã
Sobrevivi a mais um dia
Embora não saiba como.
Aprendi a ser forte com a vida
E a não transparecer dor
É uma tarefa árdua, difícil
Necessária.
Quem é que se importa com os fracos?
Quem que se importa com os puros de coração?
Eu me importo,
Mas quem sou eu para me importar?
Num outro tempo eu fui alguém
Muito dada aos arroubos e sentimentalismos românticos
Era pura, doce, ingênua...
Uma verdadeira mocinha dos antigos romances românticos
Numa versão moderna e aziaga...
Afinal nunca encontrei alguém que me compreendesse
E que valorizasse aquilo de bom que havia em mim.
Pelo contrário, fizeram o contrario
Contrariaram-me
Moldaram-me
E hoje fiquei assim
Estranha
Ligeiramente louca e psicótica.


Natalia Costa

(31/07/2012)

Segredo ao pé do ouvido



Depois de tudo que aconteceu
Do tempo que passou
E desse abismo que surgiu entre nós
Ainda lembro de você.
Lembro daquela viagem
E de tantas outras 'viagens'
Que fizemos juntos e a sós...
Lembro daquele beijo roubado
E de tantos outros dados
Entre o medo e o amor
Entre o riso e a dor
Entre o ter e o te perder.
Lembro das promessas
Dos sonhos loucos
Que sonhamos juntos
Entre as somas e as figuras
Entretendo a monotonia
Daqueles dias quentes e frios.
Lembro que te deixei ir sem mim
E que fiquei olhando de longe
Queria ver como seria
E você se saiu bem.
Creio que nem sequer olhou para trás
Assim ficou mais facil para mim.
Lembro que por três vezes abri mão de você
Não por não gostar de você
Mas para não te odiar
E para poder guardar as boas lembranças
Daquele tempo que ficou para trás
Como tantas outras coisas
Que hoje fazem falta...
É...
Lembro como se fosse ontem.
Mas só lembro.
Não penso mais em nós.
E nem existe mais 'nós'
Tenho até dúvidas se existiu.
Mas tudo isso ficou guardado namemória.
E quando te vejo
Lembro sem querer
(Mas só lembro!)
E vejo o quanto você está bem
E isso é bom.
Acho que fizemos o certo
Em seguir caminhos diferentes...
E quando essa dança terminar
Vai cada um para o seu lado
Você vai para os braços dela
E eu...
Bom...
Agora é a minha vez.
Preciso ir.
Adeus.


Natalia Costa (24/05/12)